[Resenha] Austenlândia — Shannon Hale

Capa Austenlândia V2 RB.aiJane Hayes tem 33 anos e mora na Nova York atual. Bonita, inteligente e com um bom emprego, ela guarda um um segredo constrangedor: é verdadeiramente obcecada pelo Sr. Darcy. Embora sonhe com ele, os homens reais com os quais se depara são muito diferentes dos que habitam sua fantasia. Justamente por isso, ela decide deixar de lado sua vida amorosa e aceitar seu destino: noites solitárias aconchegada no sofá assistindo a Colin Firth em seu DVD. Porém, esses não são os planos que sua rica e velha tia-avó Carolyn, tem para a moça. A única a descobrir o segredo de Jane deixa, em seu testamento, férias pagas para a sobrinha-neta na Austenlândia. A ideia é que Jane tenha uma legítima experiência como uma dama no início do século XX e consiga se livrar de uma vez por todas de sua obsessão. Contudo, para isso, ela terá que abrir mão do celular, da internet e até do uso de sutiãs em troca de tardes de leitura, espartilhos e… a companhia de belos cavalheiros. 

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Editora: Record     ano: 2014     Páginas: 240     autor: Shannon Hale

Quando comecei a ler Austenlândia, minhas expectativas estavam muito altas. Bem, e como não estariam? Como leitora assídua de romances de época, ler um livro que revive o século XIX (dezenove), em contraste com nossa época, era realmente algo a se esperar muito. Por isso, e só por isso, ele me decepcionou um pouquinho.

Jane Hayes é uma americana bonita, com um emprego aceitável. No entanto, aos 33 anos, continua sozinha. Ah, e o que tem de errado nisso, né? O problema é que Jane está obcecada (embora deteste admitir isso), pelo Sr. Darcy. Passando suas noites assistindo Orgulho e Preconceito, revendo os olhares trocados por Lizzy e o Sr. Darcy, naquela versão da BBC, onde o maravilhoso Colin Firth o representa. Jesus! Até eu sofro desse mal.

Jane via e revia a parte em que Elizabeth e o Sr. Darcy olham um para o outro por cima do piano e há aquele estalo, e o rosto dela se suaviza, e ele sorri, com o peito arfando como se fosse inspirar a imagem dela, e os olhos dele brilham tanto que você até pensa que ele vai chorar… Ah!

E se não bastasse isso, Jane procura pelo irresistível personagem em todos os caras que namora. E, claro, quando comparados, nunca superam as expectativas, e a pobre Jane continua só, embarcando em outras jornadas amorosas, em busca do tão esperado romance arrebatador.

Desiludida com tantas decepções, ela decide que agora basta. Já chega de homens e suas ilusões. Está na hora de colocar os pés no chão e seguir em frente, sem o Sr. Darcy ou qualquer outro homem que apareça.

— [Orgulho e Preconceito] Além de inteligente e engraçado e talvez o melhor romance já escrito, também é a história de amor mais perfeita da literatura, e nada na vida consegue chegar aos pés dela, então passo meus dias mancando à sombra dela.

E tudo ia bem, ou pelo menos ficaria, com o passar do tempo, quando sua tia-avó Carolyn morre, e a deixa no testamento. Bem, as duas nunca foram próximas, então não era de se esperar nada tão grandioso. Porém, a surpresa foi maior: tia Carolyn a havia deixado uma viajem para Austenlândia, o lugar de seus sonhos, ou seriam pesadelos?

Depois de muito refletir, Austenlândia, em Pembrook Park, na Inglaterra, parecia ser o ponto final perfeito para abandonar sua obsessão. Jane embarcaria nessa aventura, viveria o tão sonhado século dezenove e sairia de lá curada, deixando o maravilhoso Sr. Darcy para trás, e com ele, tudo que estava relacionado a homens.

Em Pembrook Park, Jane Hayes se torna a Srta. Jane Erstwhile, sobrinha de Sir John Templeton e Lady Saffronia, duas pessoas que ela nunca havia visto na vida. Suas calcinhas e sutiãs foram substituídos por espartilhos desconfortáveis e calçolas nada práticas, e o meio urbano tumultuado deu lugar ao ambiente campestre, repleto de colinas e arvores frondosas. Lindo, maravilhoso, porém, nem um pouco real. No meio de todo aquele faz de conta, com mulheres carentes pagando horrores para se sentirem o centro das atenções de atores usando coletes de gola alta, casacos com cauda e até costeletas, Jane se sentia sufocada, patética e desiludida.

O livro é muito bem construído, a protagonista é divertida, espirituosa e faz muito papel de trouxa. Sério, me imaginei no lugar dela, sofrendo as mesmas desilusões, a procura do cavalheiro de época que mora nos romances.

Quando ela se deu uma pausa para absorver a ideia, a verdade lhe pareceu tão destruidora quanto a descoberta sobre o Papai Noel aos 8 anos. Não existe Sr. Darcy. Ou, mais precisamente: O Sr. Darcy seria na verdade um idiota chato e pomposo.

O final teve uma reviravolta e tanto, e eu gostei. Bem, foi no mínimo inusitado e um pouco confuso, mas, rá, a Jane ficou com quem eu queria. Já o meio do livro foi maçante, embora demonstre bem como verdadeiramente era a vida das ladies do século dezenove: um completo tédio, dividido entre bordado, conversas supérfluas e caminhadas com vestidos pesados, sujando a barra no campo molhado. Fiquei decepcionada porque esperava por bailes, e só teve um, no singular, um dia antes da protagonista partir do conto de fadas.

No mais, achei Austenlândia encantador, com aquela pitada de desilusão e ótimas referências aos livros de Jane Austen. É uma leitura leve e descontraída que completei em dois dias. Pois é, eu estava mesmo desesperada por um livro assim.

E para terminar a resenha, esse é o trecho que descreve perfeitamente o que sinto quando leio algum romance de época arrebatador (não só os da Austen):

E Orgulho e Preconceito era o romance mais maravilhoso e emocionante de todos os tempos, do tipo que penetrava a alma de Jane e a fazia tremer.

15 comentários sobre “[Resenha] Austenlândia — Shannon Hale

  1. Estou com ele na estante, mas – não sei por quer – ainda não o li.
    Amo livros de adaptações ou até mesmo que fazem referência ao nosso queridinho “Orgulho e Preconceito”.
    Sua resenha me deixou com uma mega vontade de ler “Austenlândia”, porém só depois da MLI 2017. rsrsrs… 😏

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  2. Pingback: Tag: Deuses do Olimpo | Aspas & Vírgula

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